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CRIATIVIDADE & TRADIÇÃO

PAFHAUSEN Jonah, Metropolita
tradução de monja Rebeca (Pereira)

A criatividade é inerente à
Tradição, como sinergia vivificada pela energia do Espírito Santo. É o poder
que abastece o contínuo crescimento na vida da Igreja, e sua adaptação a cada
novo ambiente cultural. Encontra-se ativa em cada membro (individual) da
Igreja, da maneira com a qual cada um abraça, pessoalmente, a nova vida
comunidada pela graça. Esta divina criatividade está ativa nas comunidades e
nas igrejas, pela forma com a qual cada congragação incarna a Igreja universal.
O Santo, aquele que atingiu “a medida da estatura da plenitude de Cristo” (Ef.
4:13), é aquele que foi transformado em sinergia com graça divina. Uma igreja
se preenche em sua sinergia litúrgica, cada um com o outro, em Cristo pelo
Espírito Santo, em comunhão. Ambos são transformação da vida – vida humana, a
vida da criação, a vida da comunidade – no mistério da presença do Reino de
Deus na terra. A dimensão interna disto é a ascensão pessoal à comunhão com
Deus pela purificação e iluminação, individualmente e corporativamente. A
dimensão externa e expressão deste movimento chama todo homem a este mesmo
mistério de comunhão. Esta dupla ação do Espírito, tanto ao interior como ao
exterior, é o cerne da Tradição viva, da mesma forma com a qual somos chamados
por Deus à esta cósmica e Divina Liturgia.



As dimenções pessoal e corporativa de nossa vida no
Espírito, bem como as direções interiores e exteriores deste movimento,
constituem um processo profundamente criativo. A nível pessoal, a criatividade
é necessária para adaptar
uma vida às
formas e tradições da Igreja. Mas, a um nível distante e profundo, a
criatividade enrraízada em sinergia com graça, o processo de purificação,
iluminação e deificação, motiva-nos ao confrontarmos nossas vidas na luz da
Presença viva de Cristo.



A nível corporativo, estas formas que desenvolvemos como
meios de transmissão da experiência da fé em Cristo, tanto litúrgico como
institucional, evoluiu em culturas e tempos particulares. Enquanto algumas
formas permanecem estáveis, como no caso do Cânone das Escrituras ou o texto da
Liturgia, as maneiras com as quais são expressos e interpretados – formas
rituais, formas institucionais – evolui e desenvolve conforme as pessoas se
empenham na comunhão com Cristo a comunicar o Evangelho criativamente. Sem
isto, as formas e tradições ficam vazias, e não passam de
  simples hipocrisia sem nenhum valor salvífico.
Ainda na medida em que estamos involvidos no grande processo de criativa
transformação espiritual, ambos pessoal e corporativamente, as formas e
tradições são cumpridas como guias a esta nova vida. Este é o espírito da lei,
não é o espírito da letra que conta; ainda que tenhamos que cumprir uma sem
negligenciar a outra.



As dimensões pessoal e corporativa não estão de maneira
alguma separadas, apesar de serem distintas. Cada pessoa, deve submeter-se ao
processo de transformação espiritual individualmente através de arrependimento
e conversão. O contexto para isto, o único contexto, é a comunidade da Igreja,
e sua liturgia de vida, sua procissão ao Reino. Quanto mais completo e intenso
for o processo para cada membro, mais rica e profunda será a vida de toda
comunidade. Muito já foi escrito sobre o processo pessoal de transformação em
Cristo. Aqui, precisamos explorar a dimensão corporativa deste processo
criativo, e suas implicações para as formas institucionais da Igreja em nosso próprio
contexto cultural.



A Liturgia é o local onde a comunidade particular é realizada
enquanto Igreja por tornar-se ela própria Corpo de Cristo. Muitos são unidos e
unificados pelo Espírito Santo, no grande movimento de amor e auto-oferta ao
Pai de Cristo, cabeça e corpo. A Liturgia é o foco da revelação da Igreja
enquanto Reino de Deus, da mesma maneira que a comunhão é o foco dos fiéis a
suas transcendências pessoais, e suas realizações enquanto verdadeira
identidade de membros do Corpo de Cristo. Neste instante o esforço ascético
pessoal e a ascensão corporal coincidem, interceptam e se realizam. Não é o
caso, no entanto, que o mistério da Igreja seja somente manifesto na Liturgia
eucarística. A santificação da vida da própria comunidade, vida diária, é
também um elemento fundamental da Igreja enquanto revelação de Reino de Deus na
terra.



A vida de cada comunidade da Igreja é construída em torno
do suporte mútuo dos membros – uns para os outros – em seu processo comum de
transformação espiritual. Isto, com certeza, fica mais claro e óbvio numa
comunidade monástica. Mas deve também ser o conteúdo de cada comunidade. Este
processo requer uma tremenda criatividade: aprendendo a dialogar um com outro,
cada um com um diferente nível espiritual, emocional, maturidade pessoal e
experiência, para não mencionar os diferentes carateres, levando cada um os
fardos dos outros, partilhando tanto uma visão como um objetivo comum. Cada um
destes aspectos tem uma dimensão tanto transcendente como pessoal. Cada
interação, independente do fato de ser mundana, tem um impacto na vida da
comunidade como um corpo, manifestando tanto o amor mútuo em Cristo como o
egoísmo do mundo. Se os membros lutam entre si, que tipo de Liturgia vão
celebrar?



As comunidades da Igreja são feitas de pessoas de um
tempo e espaço particulares, com uma cultura particular. Para eles, é pura
pretensão – ilusão – tentarem ser algo diferente. A tarefa da Igreja é
santificar cada cultura particular, e seus povos particulares, fazendo suas
comunidades transparentes ao Reino de Deus, revelando a realidade da Presença
transformante de Deus a outro povo neste lugar, tempo e cultura particulares.
Uma comunidade cristã revela o mistério do Reino de Deus no meio do mundo,
transfigurando e deificando pessoas particulares pela graça, batizando a
cultura, a língua e as formas particulares em meios de comunicar esta graça e o
Evangelho do Reino. “Na Igreja, quero falar cinco palavras na minha própria
inteligência, para que possa também instruir os outros, do que dez mil palavras
em língua desconhecida” (I Cor. 14, 19).



Para levar isto abaixo em termos concretos, devemos
perguntar a nós mesmos, o quê nossas instituições, comunidades paroquiais e
organizações, nossa liturgia e nossas vidas, representam para as pessoas ao
nosso redor? Estamos comunicando o Evangelho e a salvação, ou simplesmente
formas externas de “religião”? São nossas instituições, atividades e
organizações efetivas à nossa comunicação e suporte em nosso processo comum de
arrependimento e conversão, purificação e iluminação? Será que amamos,
autenticamente, uns aos outros – única marca dos discípulos do Senhor Jesus?
Nossas comunidades são realmente ícone do Reino de Deus, comunicando vida em
Cristo? E ainda mais, como podemos engajar criativamente a Tradição e nossa
própria cultura, em vista de nosso processo espiritual pessoal e coporativo, a
fim de desenvolver a vida de nossas comunidades em promover
  o objetivo e a visão de tanto a deificação
pessoal como a salvção corporativa em nosso Senhor Jesus Cristo? Tal tarefa
requer uma tremenda criatividade da parte de todos os membros de nossas
comunidades, informados pela graça e infundidos com a inspiração do Espírito
Santo.

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Aurora Ortodoxia

Aurora Ortodoxia é um labor online missionário de cristãos ortodoxos brasileiros de distintas jurisdições canônicas, dedicado ao aprofundamento e iluminação daqueles que se interessam em conhecer a Fé Ortodoxa por meio da experiëncia da Santa Tradição.

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