Quando olhamos ao redor da igreja num domingo, podemos dizer que somos todos cristãos? Todos fomos batizados em Nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo; cremos que Jesus ressuscitou dos mortos e todos recitamos o Credo; fazemos o sinal da cruz, temos ícones; rezamos, frequentamos a igreja regularmente e até chegamos sempre no horário (longe da realidade); e mesmo que todos recebêssemos a Sagrada Comunhão (o que também está longe da realidade), podemos dizer que somos cristãos?
São Paulo diz: “Examinai-vos a vós mesmos se realmente estais na fé” (2Cor 13,5). Todos nós provavelmente pensamos que temos fé, caso contrário não iríamos à igreja regularmente, mas que tipo de fé temos? São Tiago diz: “Mostrai-me fé sem obras” (Tg 2,18). Quando ouvimos a leitura do Evangelho, podemos dizer que vivemos o que nos é ensinado por Jesus? Tomamos a Santa Comunhão, mas será que é uma experiência mística em que sentimos a presença real de Deus e somos renovados por ela?
Para saber se somos verdadeiramente cristãos, precisamos examinar nossa vida e nosso relacionamento com Deus. As obras que são boas aos olhos de Deus são aquelas que vêm do nosso coração, por amor. Quando temos fé, temos um amor a Deus maior do que qualquer outro amor. Por causa desse amor, escolhemos fazer a Sua vontade e receber a Sua graça para nos ajudar. Essa graça é concedida quando somos humildes, diz o Apóstolo Tiago (Tg 4:6).
São Tikhon acrescenta: Corrija o seu coração e a sua vontade e serás bom, serás um verdadeiro cristão, serás uma nova criatura. Pois todo o bem ou mal vem da vontade e do coração. Quando o coração e a vontade são bons, então toda pessoa é boa.
Nosso exame, portanto, começa com o exame do nosso coração. Precisamos fazer um exame profundo para penetrar as escamas que o cercam. Sabemos o que está escondido ali? Reconhecemos nossa obstinação, ira, inveja, ganância…? Esse exame exige grande humildade. A maioria das más tendências que temos são reprimidas em nosso subconsciente. Tendemos a pensar que somos cristãos, muito espirituais e fiéis. Mas, cuidado, podemos sofrer de vaidade.
Como podemos expor nossa falta de fé que nos impede de seguir tudo o que é ensinado no Evangelho e nos deixa com um relacionamento morno com Deus? Esse esforço envolve nossa disposição de reconhecer e lutar contra o pecado.
São Tikhon continua: Não é possível corrigir-se corretamente se não reconheceres o mal oculto em teu coração e as calamidades que dele procedem. Essa luta é a marca de um verdadeiro cristão…
São Paulo diz: Não deixem que o pecado reine em seu corpo mortal, de modo que obedeçam às suas concupiscências (Rm 6,12).
Isso é exigido pelos votos que fizemos no Batismo. Naquela ocasião, prometemos (ou nosso padrinho em nosso nome, se fôssemos crianças) obrar para o Senhor com fé e verdade. Não há salvação para aqueles que não cumprem esses votos. “Um verdadeiro cristão é aquele que trava uma guerra incessante contra o pecado.” Ele é aquele que trabalha na verdade e na fé.
São Tikhon lista as seguintes causas do pecado:
1. A corrupção da natureza humana. Herdamos a tendência ao pecado de nossos ancestrais, desde Adão.
2. O diabo leva o homem ao pecado. São Pedro diz: “Sede sóbrios e vigilantes; porque o diabo, vosso adversário, anda em derredor, como leão que ruge, buscando a quem possa tragar. Resisti-lhe com fé firme (1Pe 5,8-9).” Paulo diz: “Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para que possais ficar firmes contra as ciladas do diabo. Pois não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nas regiões celestes (Ef 6,10-12).”
3. As seduções do mundo também levam ao pecado. Jesus diz: “Ai do mundo, por causa dos escândalos! Pois é inevitável que venham escândalos, mas ai daquele por quem o escândalo vem!” (Mt 18,7).
4. Uma causa do pecado é frequentemente a má educação dos filhos.
5. Os hábitos atraem fortemente o homem para o pecado.
São Tikhon diz: “Um cristão que deseja ser salvo deve lutar incansavelmente contra essas coisas.” O pior de tudo são os hábitos aos quais nos acostumamos, de modo que o pecado se torna uma segunda natureza. Muitas vezes, nem nos damos conta da nossa condição precária.
São Tikhon nos dá estas sugestões para nos ajudar em nossa luta contra o pecado:
1. Ouça e atenda à Palavra de Deus. São Paulo: Toda a Escritura é divinamente inspirada e proveitosa para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra.
2. Deus está presente em todo lugar e conosco, onde quer que estejamos. Nossos pecados não podem ser escondidos de Deus. Mesmo que não estejamos dispostos a nos confessar diante de um padre por causa de nosso orgulho ou vergonha, Deus sabe e vê tudo com Seus olhos santos.
3. Lembre-se da morte, do julgamento de Cristo, do inferno e do Reino dos Céus.
4. Evite ocasiões que levem ao pecado. Evite reuniões ou amigos que levem a tentações. Paulo: Pois as más conversações corrompem os bons costumes (1Co 15:33).
5. Lembre-se de que podes morrer no próprio ato do pecado.