Minhas bem-amadas almas em Cristo,
Eu gostaria, e apresso-me em dizer duas simples palavras, tal como as duas moedas da viúva do
Evangelho, para a tonsura do nosso irmão E. No entanto, suplico vossa afeição
ao fato de não fazer atenção à sintaxe de minhas palavras, pois sou um ignaro.
Deixei a escola em 1930, e passei tantos anos no meio destes rochedos de
Katounakia, que não só esqueci as boas maneiras, como também, tenho
dificuldades em me exprimir em grego, e com mais forte razão, pronunciar uma
homilia. É por isto que vos peço de dirigirem vossa atenção ao conteúdo que, à
medida do possível, tentarei exprimi-lo. Eu faço um apelo à vossa indulgência.
E começo então…
– “Como te chamas tu, irmão”?
– E., monge
– Longa vida (muitos anos); possas tu agradar a Deus, aos Anjos e ao teu Ancião. Esta
expressão é pronunciada habitualmente; é uma simples expressão. Mas possui no
entanto uma profundeza rica em sentidos que provém todos do Ancião, da
obediência e que retornam ao Ancião, e terminam na obediência. O Ancião é Deus,
Ele próprio, que se torna visível.
Para que o nosso venerado e amado Ancião, nosso doce e santo Ancião – que distingui pela sua
subtileza, sua piedade, sua devoção e sobretudo seu discernimento, ao mesmo
tempo que por inúmeros outros carismas que ornam a sua alma plena de aromas –
tenha decidido em proceder à tua tonsura monástica em um tão curto espaço de
tempo, e de te revestir do Grande Hábito angélico, é evidente que o teu
comportamento, irmão amado, a tua conduta, tua vida enquanto noviço foi tal,
que encontraste graças a seus olhos; que ele repousou sobre ti.
Seguidamente, nós também, seus discípulos, sua comunidade, estamos totalmente de acordo com sua decisão, com seu julgamento, tal como uma única alma repartida em vários
corpos. Todos juntos, nós queremos crer e estamos tanto certos como persuadidos
que teu zelo, tua agilidade, teu ardor, não fraquejarão, em caso algum, nem
conhecerá o mínimo descontentamento durante tua existência terrestre, mas que
ele aumentará, se multiplicará, a fim de que possas tornar-te também um “vaso
de eleição” do Espírito Santo, para a grande alegria e o júbilo do nosso santo
Ancião e de toda a nossa fraternidade, e motivo ainda de honra para a Santa
Montanha.
Seja então, nosso bem-amado irmão Padre E., digno de tua vocação e de nossa espera, de nossa tão doce esperança, de nossa alegria, progredindo segundo a regra monástica,
observando, não só à cada dia, mas à cada instante, os caminhos da tua vida, os
teus pensamentos e as tuas iniciativas, perguntando-te constantemente: para
onde eu irei?
Sobe, bem-amado irmão, nosso Padre E., a escada espiritual, sem temor e corajosamente, sem
hesitar face à violência e a dureza das guerras visíveis e invisíveis que te
rodeiam, pois “maior é o que está em vós do que aquele que está no mundo” (I
Jo.4,4).
Mas as santas orações de nosso Pai santo e teóforo e de todos os santos Padres te guardarão,
te iluminarão, te consolarão, te acompanharão, para que tu saías vencedor,
triunfante de todos estes combates, para a honra e glória de teu Hábito
angélico, assim como nosso júbilo, como aquele deste santo lugar e de nosso
santo Mosteiro.
Porte tuas armas, tal como um novo David, todas as armas da vida monástica, enquanto imitador e descendente de nossos eminentes e santos Pais António, Eutímio, Sabas, Pacómio,
e particularmente como discípulo do grande Acácio e de São Dositeu. Porte as
armas da temperança do ventre, da temperança da língua, da temperança dos
olhos, da temperança das mãos, e sobretudo aquela da fé e da negação de si,
inabalavelmente, com uma obediência cega e sem discernimento, não somente em
relação ao nosso santo Ancião, mas também para com todos nossos irmãos e
Padres.
Oh! Obediência,
Obediência que fez de Deus um Homem e que faz do homem um deus!
Já vi muitos homens
grandemente condenados que ao entrarem na arena monástica tornaram-se anjos,
por meio da obediência; eles deixaram para trás o EGO.
Já vi também homens
muito capazes, que ao franquearem o estádio da vida monástica, porque seguiam
seu julgamento próprio, sua vontade própria, sem pedirem conselho a ninguém,
conheceram um fim não muito bom, mas vergonhoso.
A obediência se
divide em três períodos:
Eu obedeço para não
ser condenado sendo desobediente.
Eu obedeço para ter
uma recompensa.
Eu obedeço por
amor.
O discípulo não
teme o julgamento de Deus, porque ele ama seu Ancião. E, o que quer que ele
faça, ele o faz por amor ao seu Ancião, e em consequência também, pelo seu
irmão espiritual. Desta forma, enquanto nele reinar o amor, ele não temerá.
Quanto mais ele ama o seu Ancião, mais ele ama o dulcíssimo Jesus.
“O amor perfeito
bane o temor” (I Jo.4,18).
Então, se tu queres, tu também, nosso irmão bem-amado, ser chamado, não somente em palavras, ou pelas vestes e pelos hábitos, imitador de Jesus, mas ser um imitador e um soldado efetivo do nosso belíssimo e dulcíssimo Jesus, é necessário que tu também, tal como Ele, subas sobre a Cruz.
O que significa
“cruz”? Paciência nas tribulações.
É isto que
significa a cor negra que nós trazemos.
Após a cruz vem a
ressurreição.
A aflição suscita o
júbilo.
O monge não deve se
alegrar, porque isto não lhe convém.
Mas que ele chore
sem cessar.
Viste um monge
alegrar-se, ou a rir sem medida? Isto não é bom.
Viste um monge
perder-se em palavras? Isto não é verdadeiramente um monge.
Viste um monge
reservado, silencioso? Isto é verdadeiramente um monge.
Os santos não
nasceram como tais, mas como todo o mundo. É a paciência da qual foram testemunhas
nas diferentes aflições que os tornaram como tais, o que quer dizer: vencedores
e coroados.
Eles deram
quotidianamente o sangue e receberam o espírito.
Não penses, irmão,
que eles não tinham paixões, que eles não afrontaram combates, contra o diabo
ou contra o mundo! Não! Eles tiveram, eles também, como nós. Mas seu espírito
viril os levava a não regredirem, a não serem mornos, fracos, quando afrontavam
uma paixão.
O primeiro
obstáculo que encontramos é o próprio ego; o diabo não alcança uma segunda
posição.
Não penses que é
coisa fácil vencer o seu eu. Tu verás bem agora que trazes o Hábito.
Ponhas abaixo o teu
eu, aos pés dos Padres, dizendo o “Abençoa!”*’, tendo ou não razão. É este
“Abençoa!” que temem os demónios; ele aniquila o seu poder.
Verás então
despertar todo o Monte Athos.
Nós sabemos, irmão
amado, Padre E., que no mundo tu eras um grande; aqui, todavia, tu serás o
último de todos. Nisto consiste todo o teu combate, toda a tua violência, toda
a tua força espiritual, a coroa de ouro maciço; venças a ti-próprio, assim como
tu prometeste.
O diabo não tem
poder.
O combate invisível
do monge consiste nisto: vencer as paixões que se apresentam a ele, seu ego. No
início tu afrontarás o teu velho homem, tal como um outro Golias, mas tenha
confiança.
A graça virá também
e tu tornar-te-ás superior às tuas paixões, ao teu próprio eu, e verás um outro
homem, um homem segundo o novo Adão, geralmente sem corpo, com um horizonte
espiritual, uma outra armadura espiritual, um outro alimento espiritual.
E as doces lágrimas
correrão como um manancial. E tu te rejubilarás e não cessarás de dar graças,
de louvar, de glorificar a Deus desta metamorfose (transfiguração).
Quanto mais o homem
se humilha – o que se produz por meio da obediência e da oração – mais ele se
aproxima de Deus, mais ainda ele se vê pecador, e ele chora e se lamenta, busca
a misericórdia de Deus, e mais ainda ele vê os outros como santos, como anjos.
Enquanto que a
medida em que ele se afasta de Deus, mais ele considera os outros como
inferiores.
Faça-te então
violência, nosso irmão Padre E., a fim de encontrar o teu eu. Se não te fizeres
violência, tu não o encontrarás, tu não terás mais consciência de tuas paixões
interiores; os anos então passarão, e constatarás que passaste tantos anos
nesta Santa Montanha, e nada mais.
Para concluir, eu
digo que:
A violência é digna
de elogios. Mesmo o Evangelho o diz: “O Reino dos Céus sofre violência, e pela
força se apoderam dele” (Mt. 11,12), assim como os santos Padres: “O monge é uma
violência contínua feita `a natureza e uma vigilância incessante sobre os
sentidos”.
Sem violência, não
há progressão, mas nem mesmo purificação, nem visão, nem senso espiritual.
Mas,
no entanto, nós acreditamos que tu ultrapassará tudo isto e que tornar-te-ás
superior, mestre de ti mesmo, e que sairás deste século como um vencedor e
triunfador, a fim de participar ao júbilo e ao deleite do belíssimo e
dulcíssimo Esposo Jesus, pelos séculos sem fim e intermináveis, na Sua câmara
nupcial celeste. Amém.