por ABRAÃO (Serafim), Hierodiácono do Mosteiro da SS. Trindade
A vida do Arquimandrita Pedro (Siqueira)a é marcada por uma jornada espiritual profunda e singular, que exemplifica a dedicação plena à fé e ao serviço religioso. Desde sua conversão à Ortodoxia em dezembro de 1985, sua trajetória reflete um compromisso firme com os valores e ensinamentos da Igreja Ortodoxa. Cada etapa de sua vida revela um espírito de entrega e devoção.
Após ser batizado em agosto de 1986 pelo Hieromonge Paulo (Maia), seguiu uma caminhada de constante aprofundamento espiritual, culminando na entrada no Mosteiro da Transfiguração, em Portugal, em junho de 1997. Lá, ele deu início à sua vida monástica, sendo tonsurado monge em setembro de 1997. Em março de 1998, foi ordenado ao diaconato pela Igreja Ortodoxa da Polônia, poucos meses depois, em agosto do mesmo ano, ao presbiterado.
A volta ao Brasil em março de 2000 marcou o início de uma nova fase, de integração espiritual em sua terra natal. Em março de 2002, optou por uma mudança de jurisdição para a Igreja Ortodoxa Sérvia, consolidando ainda mais sua caminhada como sacerdote. Em setembro de 2003, o Arquimandrita Pedro embarcou em outra etapa marcante, ingressando no Mosteiro de São Herman do Alasca em Platina, localizado na Califórnia, Estados Unidos da América.
Buscando aprofundar seus conhecimentos teológicos, iniciou em agosto de 2006 seu mestrado em Teologia no Seminário São Tikhon, na Pensilvânia. Após concluir o curso em maio de 2010, retornou ao Brasil com um novo propósito: fundar o Mosteiro Ortodoxo da Santíssima Trindade, um espaço dedicado à oração, contemplação e orientação espiritual. Em 12 de fevereiro de 2019 recebeu o grau monástico de pequeno schema, e em 13 de fevereiro do mesmo mês e ano foi elevado ao título de Arquimandrita pelas mãos de Sua Eminência Metropolita Amfilohije Radovitch, de bem-aventurada memória
Esse percurso não é apenas uma história de realizações pessoais, mas também um testemunho da força transformadora da fé e da resiliência diante dos desafios. Que esta obra inspire os leitores a explorar as riquezas da vida espiritual e a valorizar a devoção e o serviço que marcam o caminho de um verdadeiro servo de Deus.
Sobre Mosteiro Ortodoxo Sérvio da Santíssima Trindade
Em fevereiro de 2010, Sua Eminência, Bispo Mitrofan Koditch, na época, Bispo da Igreja Ortodoxa Sérvia para a Diocese da Costa Leste dos Estados Unidos e América do Sul e Central, generosamente concedeu a Sua Paternal Bênção para o estabelecimento do Mosteiro Ortodoxo da Santíssima Trindade, em Aldeia, Camaragibe, Pernambuco, Brasil.
Este era um projeto, ou melhor, um sonho, que toda comunidade ortodoxa brasileira trazia em seu coração desde o início, por ser Aldeia distante do centro urbano de Recife-Olinda. Assim, desde que em 2008 uma nova paróquia foi estabelecida no centro da cidade do Recife, Paróquia Ortodoxa Sérvia da Dormição da Mãe de Deus, pouco a pouco o projeto de transformar a Paróquia da Santíssima Trindade em um mosteiro tornou-se mais que um sonho, pois, agora, era uma realidade.
Foi em face desta realidade, que Sua Graça, Bispo Mitrofan Koditch, em julho de 2010, enviou para o Brasil o Rev. Higúmeno Pedro (Siqueira) com o propósito de dar início ao Mosteiro Ortodoxo da Santíssima Trindade, em Aldeia. Inicialmente, em face do estado de conservação do imóvel, em Aldeia, providencias imediata foram tomadas para restaurá-lo, bem como, a recuperação do mobiliário existente.
Nesta época, uma horta orgânica foi plantada e uma sala para fabricação de velas foi construída. O Rev. Arcipreste Elias Cavalcanti havia disponibilizado o terreno em Aldeia sobre o qual a comunidade ortodoxa construiu o templo e a casa episcopal. Na época foi firmado um Comodato entre a Associação Ortodoxa Recifense e o Rev. Arcipreste Elias Cavalcanti.
Em março de 2011, Sua Graça, Bispo Mitrofan Koditch, por ocasião da sua visita pastoral a América do Sul, esteve em Aldeia. Na ocasião, reafirmou a sua bênção para a criação do Mosteiro e determinou que, ali, ele fosse juridicamente estabelecido, junto aos órgãos de governo, com o propósito de receber em doação a terra sobre a qual está localizado. Ao retornar para os Estados Unidos, Vladika Mitrofan enviou recursos financeiros para a realização do projeto, e assim ele foi executado.
Em maio de 2011, o Santo Sínodo da Sérvia criou a Diocese da América do Sul e Central tornando a área independente da Diocese da Costa Leste dos Estados Unidos. O Metropolita Amfilohije Radovitch foi nomeado Administrador Episcopal da diocese recém-criada, com sede na cidade de Buenos Aires.
Em novembro deste mesmo ano, Sua Eminência fez a sua primeira visita pastoral ao Brasil, retornando em novembro de 2012. Em ambas as ocasiões, Vladika Amfilohije esteve em Aldeia, onde celebrou a Sagrada Liturgia. Em maio de 2013, o Rev. Higúmeno Pedro (Siqueira) leva a Montenegro toda documentação jurídica do mosteiro e busca, junto ao Metropolita Amfilohije Radovitch, orientação espiritual e diretriz administrativa em relação ao mosteiro.
O Metropolita Amfilohije, por sua vez, recebe a documentação, reafirma a sua benção para a continuação do Mosteiro e paternalmente orienta o Higúmeno Pedro na condução do mesmo. Ao voltar de Montenegro, as reformas do Mosteiro foram concluídas.
Em 2014, com a bênção do Metropolita Amfilohije o reboco interno da igreja foi trocado por outro mais forte e próprio a pintura de ícones. Nesta ocasião, foram montadas seis vidraças nas laterais da igreja. Durante a Quaresma de Natal de 2014, o Metropolita Amfilohije nos visitou novamente. Ele celebrou a Sagrada Liturgia no Mosteiro da Santíssima Trindade, a qual foi seguida por um almoço comemorativo ao Onomástico de Sua Eminência.
Em novembro de 2016 ocorreu em Buenos Aires a primeira reunião do clero Ortodoxo Sérvio da América do Sul e Central, nesta ocasião Sua Eminência o Metropolita Amfilohije assinou o estabelecimento canônico do Mosteiro da Santíssima Trindade. Muito ainda há por ser feito, com a graça de Deus, sendo urgente a construção de celas para abrigar mais monges e dependências para hospedes. Ao longo desses mais de sete anos, muitas foram as nossas alegrias: as visitas dos nossos amados hierarcas, já mencionadas acima, e muitas outras, tais como a do Rev. Monge Simeão em dezembro de 2010.
Além disso, novos fiéis se juntaram à nossa comunidade, a partir da crisma de Maria Madalena na Natividade do nosso Senhor de 2014, do batismo de Natália e Jorge na Páscoa de 2017. Muitos outros peregrinos e visitantes estiveram em nosso mosteiro e muitíssimo nos alegraram com as suas visitas. Grandes também foram as tristezas vencidas e as dificuldades superadas pela Graça da Santíssima Trindade e as orações de todos os nossos irmãos e irmãs que piedosamente rezaram pelo nosso Mosteiro. A todos, o nosso mais profundo e humilde agradecimento.
Que a Santíssima Trindade abençoe a todos, encarecendo que nos mantenham em suas orações!
Queremos também imensamente agradecer a todos os nossos benfeitores, que em sua profunda fé e grande amor a Deus e ao próximo deram suporte para que o nosso mosteiro fosse estabelecido e prossiga com os seus objetivos: Sua Eminência, Metropolita Amfilohije Radovitch, Sua Excelência, Bispo Mitrofan Koditch, Rev. Arcipreste Elias Cavalcanti, Rev. Arquimandrita Gerasim (Eliel), Rev. Abade Damascene (Christensen) e a Irmandade de São Herman do Alasca, Rev. Abade Hilarion (Waas), Rev. Hegumeno Paulo e o Mosteiro de São Basílio de Ostrog, Rev. Monja Gabriela (Rodrigues), Dr. Jeremy (Luke) Austin e Sr. Dmitr Karr. Do fundo do nosso coração nosso mais profundo agradecimento! Que Deus abunde sobre todos a Sua Graça e benções!
Gloria a Deus por todas as coisas!
Relato de Anastácia (Lyra Joefeson)
O Padre Pedro esteve nos Estado Unidos, no Mosteiro St. Herman of Alaska em Platina, Califórnia, no início dos anos 2000.Deus colocou em seu coração que ele tinha de aprender inglês, traduzir livros espirituais para o português e administrar seu mosteiro em Recife, Brasil. Então, ele veio para os Estados Unidos para aprender inglês.
Enquanto estava em Platina, nosso filho Levi Nicholas, meu marido Peter e eu, Lyra Anastasia, visitávamos o mosteiro com frequência quando o Abade Gerasim estava lá.
Havia amor e calor humano genuínos entre todos nós.
O inglês do Padre Pedro não estava progredindo tão rápido quanto poderia, pois os monges não são tão tagarelas quanto nossa família! E Peter e eu somos professores.
O Shasta College oferecia aulas de Inglês como segundo Idioma e morávamos a cerca de 1/2 milha (menos de 1 km) dele em Redding, Califórnia.
O Abade Gerasim nos pediu para hospedar o Padre Pedro e foi um prazer para nós. No semestre seguinte, ele morou em nosso quarto de hóspedes.
As muitas refeições e aulas de inglês que desfrutamos reunidos em nossa cozinha são nossos tesouros mais queridos. Nós riamos enquanto ele fingia cozinhar nosso gato ou me perguntava por que o inglês tem letras silenciosas, já que elas são um desperdício de tinta!
Ele era muito além de um hóspede ou visitante, mas realmente se tornou família.
Nós escrevemos e compartilhamos orações depois que ele retornou ao Brasil.
Pudemos vê-lo em Platina em 2019, quando ele retornou para uma visita.
Ele me presenteou com uma pequena relíquia da batina do Padre Seraphim Rose. É um tesouro inestimável.
Nós trocamos e-mails e oramos por sua cura nos últimos anos. Ele nos pediu para visitar o Brasil com frequência.
Estou tão triste por não termos ido ao Brasil para visitá-lo, mas estou vivendo na esperança da ressurreição, quando nos cumprimentaremos com um beijo santo, se Deus quiser. Peter e eu tivemos pensamentos calorosos no dia em que ele repousou, antes de sermos informados. Acredito que sua alma estava nos dizendo adeus. Sentirei falta dele, mas sou muito grata por tê-lo conhecido nesta vida. Eu o considerava meu pai espiritual. Sua orientação e compreensão são preciosas.
Relato de Agostinho
Logo após ingressar na Igreja como catecúmeno conheci o Arquimandrita Pedro, em 2019. Desde o primeiro contato me foi nítido que era uma figura de grande coração e alguém cujas referências e pensamentos muito ressonavam com os meus próprios. Talvez por isso, desde então tive nele um grande apoio espiritual nos momentos de maior turbulência e nele encontrei um confessor de grande sabedoria e excelentes conselhos.O Arquimandrita Pedro formou-se no seminário teológico de São Tikhon, nos Estados Unidos, e passou um tempo considerável como monge no mosteiro de São Herman do Alasca, em Platina, fundado pelo Pe. Serafim Rose, de bem-aventurada memória. Era nítido como ele desenvolveu por lá uma grande familiaridade com a verdadeira essência da tradição monástica e como ansiava por transmitir essa mesma tradição a nos que íamos até ele em busca de alento espiritual.
Talvez por essa mesma bagagem, fundou a Editora São Savas que é hoje uma das maiores editoras ortodoxas no Brasil, traduzindo livros essenciais para a catequese e propagação da ortodoxia. Seu trabalho editorial e catequético constitui um grande tesouro para a ortodoxia no Brasil.
Tinha grande amor pela Igreja, e sempre pontuava as Divinas Liturgias com homilias de grande valor e benefício espiritual. Uma vez me contou que para se fazer uma boa homilia, se deve iniciar a preparação lendo os textos com uma semana de antecedência. Foi também um Abade muitíssimo generoso, conhecido pela acolhida calorosa em seu Mosteiro Sérvio da Santíssima Trindade e deliciosos ágapes e almoços que se estendiam tarde a dentro em frutíferos diálogos espirituais. Sempre recebia muito bem a todos, tanto ortodoxos quanto interessados e inquiridores.
Nesse mesmo mosteiro, graças a sua generosidade, realizei meu casamento no ano de 2023 e ali também lhe apresentei meu filho que nasceu em 2024.
Há duas semanas, no domingo do filho pródigo, completou 70 anos e, para exercer sua gratidão por essa data, organizou uma concelebração seguida de um almoço. Em sua homilia, falou sobre como cada um de nós é semelhante ao filho pródigo pois, tendo recebido a herança da semelhança divina, a desfiguramos constantemente através do pecado e carecemos de nos arrepender e retornar a casa paterna. Essa foi a última vez que o vi.
A Ortodoxia Brasileira ontem ganhou um novo intercessor nos céus, e na terra perdeu um grande pastor e confessor.
Arquimandrita Pedro, que seja sua memória eterna! Interceda junto a Cristo por nós que ainda estamos caminhando pelo vale de lágrimas.
Relato de Victor
Durante o início da minha jornada na ortodoxia, eu busquei conhecer pessoas que pudessem me guiar na fé, para que eu pudesse aprender e presenciar mais daquilo que eu estava interessado. E uma das mais importantes pessoas que tive a honra e benção de conhecer foi o Arquimandrita Pedro. Anualmente eu costumo visitar Recife, e numa dessas vezes descobri sobre o mosteiro ortodoxo de Aldeia, que despertou bastante meu interesse, já que eu não fazia ideia antes de que havia um mosteiro ortodoxo tão perto de mim. Entrei em contato com o Arquimandrita antes de visitá-lo e ele se dispôs completamente a me receber.Quero reforçar que antes de começar a adentrar a ortodoxia, apesar de vir de uma família Católica Romana, eu vinha de um longo período de irreligiosidade, então não sabia muito do que esperar ou como me sentir quando chegasse no mosteiro. Ao chegar no dia marcado, eu senti uma grande paz com o silêncio e reverência do lugar, e logo dentro da casa o Arquimandrita estava me esperando. Começamos a conversar sobre uma grande variedade de assuntos, e apesar dele demonstrar um conhecimento imensurável sobre uma grande variedade de assuntos, tinha um ar de humildade, paciência e calma sobre tudo que falava, de sua história de conversão, até suas visitas à Santa Montanha na Grécia e sua estadia nos Estados Unidos.
Em meio essas conversas, ele me mostrou quão dedicado era a cuidar do mosteiro, e que cada quarto, sala, corredor e jardim era dada uma atenção e planejamento especial. Apesar de sua idade, ele sempre se mostrou ativo e dedicado a cuidar de cada parte do mosteiro, além da Editora São Savas.
Em um certo momento, ao falar mais do início da minha jornada na ortodoxia, ele foi até um quarto no mosteiro passou alguns minutos e voltou com a gaveta cheia de pequenos ícones, imagens e outros objetos que ele trouxe de suas viagens, e pediu que eu escolhesse o que eu quisesse para levar para casa e para os outros irmãos de fé que eu conhecesse. Eu fiquei alguns minutos um pouco envergonhado de pegar alguma coisa, mesmo ele insistindo que eu poderia levar o que eu quisesse! Até hoje tenho os pequenos ícones que ele me deu e um crucifixo que levo com bastante afeto comigo aonde vou.
Quando eu estava indo embora, fiquei me perguntando, “acabei de conhecer uma pessoa Santa?” Não conseguia explicar em palavras quão acolhido e abençoado eu me senti durante todos os momentos que estive com ele naquele dia.
A partir daí mantivemos contato via celular e pude visitá-lo novamente em outras oportunidades, onde sempre fui carinhosamente recebido, escutado e guiado pelo mosteiro para ver todas as novas mudanças que ele empreitava.
Nunca vou esquecer a dedicação à fé que eu sentia quando escutava-o falar, e quão importante ele foi durante o meu processo de conversão. Nos dias seguintes ao seu repouso, pude ver várias pessoas, incluindo de outros países, falarem que tiveram experiências similares e quanto amor o Arquimandrita sempre tinha por todos. Que sua memória seja eterna.
