THEODORE El-Ghandour, Bispo
Vigário Patriarcal Antioquino para o Rio de Janeiro
No livro do profeta Jeremias, o Senhor promete ao Seu povo: “Dar-vos-ei pastores segundo o Мeu coração, que vos apascentarão com ciência e com inteligência” (Jeremias 3,15).
Este versículo, profundamente profético, não fala apenas de um consolo futuro para Israel após a dispersão, mas anuncia também a natureza dos verdadeiros guias espirituais que Deus concede ao Seu povo em todas as épocas: pastores segundo o Seu coração. No seio da Igreja Ortodoxa, compreendemos essas palavрas como uma referência ao ministério episcopal — à vocação daqueles que são chamados a ser ícones vivos do Bom Pastor, Cristo, na condução do rebanho de Deus.
Ser bispo não é uma honra mundana, mas um peso sagrado e um chamado à imitação de Cristo, o Pastor Supremo. O Senhor não promete líderes carismáticos ou poderosos aos olhos do mundo, mas pastores formados segundo o Seu coração, moldados pela oração, pela cruz, pelo amor sacrificial. Eles apascentam com ciência, isto é, o conhecimento da doutrina, da tradição viva da Igreja, das Escrituras; e com inteligência, o discernimento espiritual, sabedoria pastoral, cuidado pelas almas.
São João Crisóstomo, arcebispo de Constantinopla, dizia com temor: “Nenhuma carga é tão pesada quanto a do pastor. Pois ele deve prestar contas não apenas de si, mas de todo o rebanho.” (Homilia sobre 1 Timóteo)
Na mesma linha, São Gregório, o Teólogo, ao falar sobre a tarefa do bispo, exclama: “É necessário primeiro purificar-se para depois purificar os outros; ser instruído para instruir; tornar-se luz para iluminar; aproximar-se de Deus para levar os outros a Ele.”
O bispo é sucessor dos apóstolos. Ele é guardião da fé apostólica, celebrante dos Santos Mistérios, vigilante da unidade da Igreja. Pela imposição das mãos na ordenação episcopal, ele recebe a plenitude da graça sacramental e se torna o ponto de referência da comunhão eclesial local. Sem ele, não há Eucaristia legítima, nem verdadeira Igreja local.
Como ensina Santo Inácio de Antioquia no século I: “Onde está o bispo, aí está a multidão, assim como onde está Cristo Jesus, aí está a Igreja.” (Carta aos Esmirnenses, 8,2)
O bispo é o ícone visível de Cristo na comunidade. Como Cristo é o Cabeça da Igreja, o bispo manifesta essa cabeça localmente. Sua missão não é dominar, mas servir. Não é agradar aos homens, mas agradar a Deus. Como pastor, ele vela dia e noite pelas almas, ensinando a fé, corrigindo com doçura, confortando os aflitos, guiando os errantes e defendendo os fracos.
A promessa de Jeremias também revela que esses pastores não surgem por mérito humano, mas por dom divino. Eles são “dados” por Deus. Portanto, é necessário grande vigilância por parte dos que desejam ou exercem o episcopado.
São Nectário de Égina, ele mesmo um bispo perseguido injustamente, dizia: “O verdadeiro bispo não busca sua glória, mas a glória de Deus. Ele se oculta sob a cruz de Cristo e se alegra em carregar os fardos do povo.”
Essa consciência deve acompanhar todos os que exercem ou se preparam para o episcopado: o cargo é um altar, não um trono; é uma cruz, não uma coroa.
O versículo de Jeremias 3,15 é até hoje uma promessa viva. Em tempos de confusão, escândalos ou desânimo, Deus continua a enviar pastores segundo o Seu coração: santos bispos, que amam com o amor de Cristo, que instruem com a sabedoria dos apóstolos e que conduzem com a humildade dos servos.
Roguemos ao Senhor que continue a levantar tais pastores em Sua Igreja, e que nos bispos já ordenados sejamos renovados diariamente pela graça, para que nossa vida seja fiel reflexo da palavra do Senhor: “Dar-vos-ei pastores segundo o meu coração.”