Não precisamos ser especialistas em arte para perceber, à primeira vista, que a arte do ícone é radicalmente diferente de qualquer outra forma de arte. Um ícone busca tornar visível a fronteira entre o céu e a terra. Seu tema pode estar “neste” mundo, mas não “deste” mundo. Assim, a imagem se torna uma espécie de janela para o céu.
Não possui o realismo da arte clássica grega e romana, nem o sentimento místico pelo “Grande Todo”, tão característico da arte chinesa. Não é nem concreto nem abstrato. Não é nem ocidental nem oriental. Na verdade, é ambos ao mesmo tempo. A forma de arte bizantina expressa em um ícone busca retratar o Invisível tornado visível. O abstrato do Oriente e o concreto do Ocidente se encontram na Pessoa de Jesus Cristo, Deus encarnado.
A arte iconográfica é estritamente cristã. Começou a florescer no século IV, quando o Cristianismo emergiu da casca da civilização pagã greco-romana. Recebeu seu impulso na cidade imperial de Constantinopla, uma cidade que se gabava de nunca ter conhecido um templo pagão. E atingiu seu primeiro florescimento pleno no século VI, durante o reinado do Imperador Justiniano I.
Durante os séculos IX e X, a iconografia entrou em declínio sob pressão de duas direções distintas. No Ocidente, o realismo começou a retornar à arte cristã. Esse processo continuou por toda a Idade Média até o Renascimento, quando o naturalismo greco-romano foi totalmente revivido. No Oriente, por outro lado, particularmente na Armênia e na Síria, houve movimentos para eliminar completamente as imagens religiosas.
Os muçulmanos, assim como os persas e os judeus antes deles, se opunham à representação de Deus na arte. Consideravam isso um sacrilégio e acusavam os cristãos de serem adoradores de ídolos. Os cristãos mais orientais eram particularmente sensíveis a essas acusações, de modo que, quando Leão III, um armênio, tornou-se imperador de Constantinopla, proibiu o uso de ícones.
Existem duas escolas distintas de iconografia: a grega e a russa. Além disso, muitas pinturas românicas ocidentais são variantes locais italianas, espanholas e francesas da iconografia bizantina. A iconografia grega bizantina foi o modelo original para toda a arte cristã. As figuras são geralmente maciças, com linhas bem definidas e cores brilhantes.
A iconografia russa se consolidou entre os séculos XIV e XVI. Ela difere da grega em suas cores mais suaves, figuras curiosamente alongadas e um senso de ritmo aguçado em toda a composição. Os artistas do norte da Rússia sentiram a influência da arte românica escandinava, enquanto do sul, após as conquistas mongóis do século XIII, chegou a arte persa. Mas, basicamente, a iconografia russa permanece bizantina.
Todas essas regras foram mantidas por séculos; nos últimos tempos, a arte do ícone entrou em declínio. As regras e as razões para as regras foram esquecidas. Os ícones tornaram-se “apenas imagens”. O naturalismo substituiu o simbolismo. Teólogos orientais consideram o declínio da escritura de ícones um sinal da decadência da fé e da falta de compreensão das questões dogmáticas e devocionais envolvidas.
Agora, finalmente, a situação está se invertendo. A arte religiosa abstrata está voltando à moda. A arte bizantina é vista com mais compreensão e respeito do que há um século. E, o mais significativo de tudo, novos ícones estão sendo produzidos por artistas contemporâneos, tão vigorosos e religiosamente comoventes quanto as grandes obras-primas da Catedral da Haghia Sophia de Constantinopla, pintadas há 1300 anos.